Eu sou aquele que caminha na linha do vento e que persegue o caminho da luz, beirando quase a paz e suas ondas que quebram junto aos batimentos cardíacos, que aceleram ao seu lado de forma sincronizada. Caminho no meio do mato e vejo só os pássaros a cantarolar uma velha e linda canção; Eles perseguem, pois sabem que a energia de que emano é a mais clara forma de compaixão. Paro, acendo o cigarro de palha na minha bolsa pego a térmica com o chá, sento à beira do caminho que me leva a iluminação, em um tronco aprecio o festejar da natureza, só mas acompanhado. Não vejo mais futuro numa sociedade infundada, a violência aqui ainda não chegara e o ciclo natural das coisas me transforma em um ser humano mais calmo e esperançoso. Milhares de perguntas atingem meu cérebro e de repente me pego anos atrás numa cozinha fria e solitária lendo o jornal e tomando meu café, minha filha correndo por uma casa infeliz e tudo que deixei de fazer, mas se nunca tive um filho e nunca fui o Pai, ainda sou o filho que corre pelos bosques buscando o melhor da vida, esse melhor que só se acha nas pequenas coisas dessa vida, não abdicarei o valor do dinheiro, pois assim teria que perder todo meu discernimento pra sobreviver nesse mundaréu de informações.
Após o chá sigo a trilha do dia feliz em toda sua esplendorosa graça contida em cada galho, em cada folha caída pela primavera, minha favorita estação, que só toca aquilo que realmente aprecio junto ao paladar dos meus ouvidos – sim, eu disse paladar, pois é isso que contém agora em meus ouvidos atento ao gosto surdo das palavras de ofensiva à vida humana. Nada de armas, nada de roupas, caio no rebento da água salgada e me purifico de todo o mal, tomo um passe de energia e caminho minha jornada e nem todo sangue derramado pelo caminho pode me deter, nem um tiro poderá me conter, pois estou sem saída para a civilização e nem sequer tenho as chaves do meu velho Del Rey ano 1989 completo. Tanto ele, quanto eu somos ainda movidos ao álcool que deprecia nosso interior, mas sofistica nossas mentes sujas e perversas, completamente tomadas pela pornografia do mundo atual. Que saudades do campo e suas flores, que saudade da civilização descontrolada, acredito em nossa geração, sei que seremos melhores e que colocaremos o ponto no fim, nem que o fim seja o ponto.
R. Davoglio
Revisado por Chu Mataveli