17 agosto 2009

Interfere na criação

A fúria do anoitecer faz da vida uma lasanha de espinafres, sem os condimentos industrializados do poder econômico, de uma gripe manipulada ou não pelo homem, uma garrafa de vinho da safra de 1986 devidamente bebida no gargalo como uma pinga qualquer, o gosto amargo do limão saboreado junto a um leitão a pururuca estala o sentido do paladar sem aguçar a cabeça do homem rude.
Escutando Complete Bitches Brew Sessions de Miles Davis e fritando um ovo para aumentar o pouco colesterol, no reflexo do espelho do fogão o casal se ama no chão da cozinha e sem o menor pudor ela perde sua virgindade e grita à dor do prazer; a bala que atravessa o crânio no morro é a bala sustentada pelo baseado queimado no vão da sua imaginação, lenta e risonha purifica seus pensamentos e amedronta cada vez mais a população, inofensiva diante da dilatação dos olhares faz de ti um verme ao aspirar a última carreira de cocaína, mas um tiro atravessa o financiamento do tráfico que é causado por sua falta de caráter e imaginação; o agudo do trompete invade de forma bruta nossa mente e faz sangrar o coração que está preocupado demais com os sentimentos alheios. Tudo não passa de uma sociedade hipócrita diante dos preconceitos causados pela globalização, sem estrutura ética vai sendo corrompida pela fala de interesse neo político e cultural, o polvo feliz sacode seus tentáculos, agarra sua estupidez ao tentar redigitar um subconsciente inexistente, nesse momento você se sente como a pessoa mais importante do mundo e espera que as pessoas venham ao seu encontro, mas o tempo passou, as pessoas mudaram e nem mesmo o CEP foi lhe dado, nesse período muitas das pessoas que você considerava importantes te substituíram por alguém que no mínimo são muito mais interessantes que você achava ser, nesse momento levita na sua cabeça o real significado da palavra temporão “Abacateiro sabes ao que estou me referindo, porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo, cedo antes que o janeiro doce manga venha ser também” seria impossível não mencionar Gilberto Gil após essa deixa, esse sim um grande músico e compositor da maior cultura esquecida do mundo, a nossa por sinal. Quem se importa com o que é nosso, quando se tem algo importado? Trocamos Jorge Amado, Guimarães Rosa entre outros por Edgar Allan Poe e Mark Twain – não é comparação, todos gênios e indiscutíveis, apenas temos o prazer de ser cult e citar os mesmos estrangeiros como os nossos escritores preferidos, mesmo que não descrevam nossa realidade, pois não tiveram o prazer de viver em nosso e lindo Brasil. Gosto mais da realidade curta e fria de Nelson Rodrigues em suas crônicas de ”A vida como ela é” . Isso sim retratava e ainda retrata a vida e seus prazeres e dores, mas somos apenas mortais e com a independência de gostar de qualquer cu, gosto é gosto e não se discute, talvez a valorização seria o ponto do qual gostaria de chegar sem me tornar crítico ou preconceituoso, arte é arte e não importa em qual lugar do mundo ela foi feita, temos só que agradecer e apreciar todas com o mesmo olfato de cão caçador de conhecimento. Esqueça tudo escrito acima e se jogue no sofá, ligue sua TV.

R. Davoglio
Revisado e nomeado por Chu Mataveli